sábado, 8 de maio de 2010

Sorte no amor

Recordo com nostalgia meus tempos de calouro. Adaptação a uma vida nova, tempo com sobra para lazer e prestigiar o novo, predisposição e animação para conhecer gente diferente a todo instante. Em uma dessas oportunidades, acontecia a Copa DCE de Futebol. Minutos antes da partida dos "Brow's", o time já estava à beira da quadra esperando pelo jogo. Na partida preliminar, acontecia o último jogo da primeira fase, e em quadra o time de Matemática, disputando uma vaga nas oitavas de final. Na torcida, duas animadas garotas, que gritavam e incentivavam o tempo todo. Porém tudo aquilo havia sido em vão: o time perdera e fora eliminado. Nem por isso elas desanimaram, na verdade o resultado do jogo não importava tanto assim, o que valia mesmo era a diversão e a farra que faziam. Queriam, então, arranjar outro time para torcer; e pra isso, nada melhor do que esperar pela partida seguinte. Com um futebol envolvente, o time dos Brow's ganhou duas novas torcedoras. E elas faziam bem esse papel: queriam saber o nome de todos os jogadores, gritavam, reclamavam do juiz. Precisavam de um "informante", como elas mesmas intitularam. E este papel coube a mim. Como eu gostava daquilo, eu passei a fazer parte daquela farra contagiante. Dessa forma, aquele jogo nos aproximou e começamos ali uma amizade que perduraria por um bom tempo.

Mas natural que seja com a correria do dia a dia, acabamos por nos afastar das pessoas que eventualmente não temos tanto contato. E nossas longas conversas foram se encurtando cada vez mais, até se tornar um simples cumprimento na reta da UFV. E aos poucos nem isso. Nas raras vezes que avistava alguma delas (já que eram raras também as vezes em que as encontrava juntas), sentia uma nostalgia tão grande acompanhada por uma conseqüente tristeza. Mas da última vez que as vi teria sido ainda pior. Foi em uma missa. Como de costume, cheguei um pouco mais cedo a fim de garantir um lugar para sentar. Com o assento garantido, aproveito os minutos que antecedem a cerimônia religiosa para observar a entrada dos que chegam, e avistar, quem sabe, um rosto conhecido. E nesse dia vejo então chegar as duas velhas conhecidas. Fazia muito tempo que não as via. Porém dessa vez não estavam sós, uma delas estava com um namorado. Os rostos que conheci já não eram mais os mesmos, foram desfigurados pelo tempo. Pareciam mais maduras, mais mulheres. E entre aquela velha e sólida amizade, havia uma distância efetuada pelo tempo e agora também separada por um namorado. Em seus semblantes, a visível diferença entre um olhar apaixonado e outro olhar, mórbido e triste. Aquilo me deixou com um sentimento contraditório. Ao mesmo tempo em que era bom revê-las juntas, senti-me entristecido ao ver a amiga que ainda não tivera sua sorte no amor. E como se isso não fosse suficiente, já não tinha também tanta sorte na amizade.

A missa assim como o domingo acabou, porém tal situação me deixaria pensativo por toda a semana que viria. Minha reflexão não se limitava a este caso em específico, pois situações como esta se tornam cada vez mais habituais. Amigos, antes inseparáveis, correndo o risco de se esquecerem antes mesmo da faculdade acabar. E os motivos que levam a isso são vários. Mas acredito que o mais freqüente seja mesmo o namoro. No início, ou às vezes até bem mais que apenas no início, o namoro traz consigo o amor e paixão ardentes. E com isso, quem perde espaço é sempre o velho amigo. É bem verdade que tão logo alguns namoros terminam, e as amizades mais fortes que são capazes de suportar esse período, ganham uma nova vida e se reafirmam. Outras, porém, não são capazes de resistir: "segurar vela" não é tarefa fácil e tampouco agradável. O amigo solteiro se vê diante de uma situação no mínimo incômoda, e até mesmo inesperada, e sai em busca de uma alternativa. Ou pode ser que não reaja bem e se feche, deixando a vida social de lado. E ainda trata com desprezo e aparente desdém o velho amigo. Não por maldade, mas talvez seja essa a forma de demonstrar que sente a perda, e a falta que faz o companheiro. Falo por quem já passou por isso, é como se nos fosse tirado um pulmão. Falta disposição para seguir adiante e procurar outro fiel escudeiro, até porque não é fácil achar alguém que nos aceite e tenha afinidade.

E por essa e outras, digo que a amizade nada mais é que um jogo de baralho. Vence quem sabe jogar as cartas certas no momento certo. Aproveito então para fazer uma ressalva naquele velho ditado, que diz "sorte no amor, azar no jogo" (ou vice versa). Às vezes o azar pode ser em ambos. E se estivermos falando de um "sortudo" no amor, porque não dizer que também teve sorte na amizade (ou melhor, no jogo)? Afinal, ele pode nem se dar conta e perceber que a amizade já não é a mesma. Sorte ou azar, então, é apenas uma questão de ponto de vista. Seja ele pessimista ou não.

Abandono

Já se passa quase um mês desde minha última postagem. Inacreditável como foram corridas estas últimas semanas. Muita coisa pra fazer, tempo insuficiente pra descansar e tempo inexistente pra postar no blog. Surpreendentemente, não tive tempo nem pro tédio! O que não quer dizer que não tive os meus momentos de reflexão e as habituais "viagens", que levam a inúmeras idéias e pensamentos que tenho vontade expressar em textos.
Por hora, tudo enfim se acalma e volta ao normal. Em resumo, estou de volta ao blog.