quarta-feira, 14 de julho de 2010

Tédio ou exaustão?

O tempo é um verdadeiro mistério. Quando não temos absolutamente nada para fazer, ele não passa, e ficamos esperando que chegue a noite, e o dia seguinte, quase em desespero. Mas quando a vida está movimentada e boa, ele voa, e quando você menos se dá conta, a semana acabou sem saber como, e o mês também, e foram-se os anos. Não há meio termo: ou se morre de tédio ou de exaustão. O que é melhor? É a pergunta sem resposta. Difícil escolha.

Quando não se faz nada, sobra tempo para pensar em coisas que nos fazem ou fizeram sofrer, lembrar do passado com arrependimento, saudades, ou, o pior de tudo, com a sensação de não ter vivido-pensamentos, aliás, absolutamente inúteis.

Quando o tempo sobra, qualquer palavra que se ouve é analisada, o contexto em que ela foi dita pode ter proporções perigosas, e até o tom de voz pode ter um grave significado. Se um amigo diz alguma coisa que não soa bem, é uma punhalada no coração, e quem tem o dia pela frente para ficar remoendo o que ouviu vai viver um drama, pois nada melhor que um dia ocioso para fazer de uma bobagem uma grande tempestade. Mas pergunte a alguém, relativamente atarefado, quanto tempo dura o sofrimento. Exatamente o tempo entre uma tarefa e outra; quão logo, o problema já acabou.

Ah, o tempo; o tempo que não se tem para ouvir os nossos amigos, o tempo que eles não tem para escutar os nossos problemas. E como não se pode viver sem ter com quem falar, sobra cada vez mais epaço para os psicólogos e analistas, que dedicam 60 minutos inteiros só a nós, ouvindo todas as bobagens e nos "compreendendo", sem que o telefone toque, sem que a namorada chame ou que surga algo novo para fazer.

Realmente patético, e por isso me recuso a consultar um profissional do gênero. Dias desses, aliás, tomei minha decisão: optei pela exaustão.