domingo, 11 de abril de 2010

O Segredo

Começo o texto de hoje com uma frase de Vladimir Maiakovski: "Não é difícil morrer nesta vida. Viver é muito mais difícil". Sei que muitos não concordam com o autor, o que é bom. Gostaria também de não concordar. Mas no momento não é possível. De uns tempos pra cá, em situações completamente aleatórias e sem motivo aparente, frequentemente sinto que viver se tornou um peso. Alguns anos atrás não era assim. Mas a vida dá a cada um as molduras que fazem de nós quem somos. E por isso, todo comportamento tem um porquê. Ao julgar cada atitude e cada personalidade devemos considerar o contexto e ao menos tentar compreedê-lo.

As coisas vinham melhorando muito, é bem verdade. Mas ontem tropecei de novo pelo caminho. Tudo ia bem. Mais do que o normal, diria. Embora com muita coisa pra fazer, mesmo já sendo final de semana, estava tranquilo. Até que de repente e inesperademente uma insanidade tomou conta. Quase fiquei louco. Entediado. Queria sair a qualquer custo.
Entretanto, as poucas opções, e porque não dizer o frio, me levaram a ficar em casa.
O tédio e a ansiedade foram superados com uma boa noite de sono, até que viesse o dia seguinte.
No sábado de manhã, já sem saber se estava mais desesperado ou ansioso, a produtividade não estivera em alta. Preocupante, visto o grande número de tarefas que tenho a realizar. Mas já dizia o ditado, nada é tão ruim que não possa piorar. E a tarde chegara para comprovar isso. Zero por cento de concentração: não conseguia entender uma palavra sequer que lia. Motivo mais que suficiente pro desespero tomar conta de vez. Sensação horrível. Assistir TV, tentar dormir, tudo em vão. Nada que fazia mudava o panorama. E sabia o porquê: a carga estava pesada. Chega uma hora em que o cérebro pede um tempo. Não adianta, temos um limite, e tentar ultrapassá-lo não é conveniente. Mas as causas não são tão simples assim: tenho uma estranha necessidade de 'estar' entre pessoas. Não consigo ficar sozinho. E passar a manhã de sábado sem ver uma alma viva fora sem dúvida um agravante para a situção.

Quão logo, então, me veio uma idéia: sair de casa poderia ser a solução. Lembrei-me que no Cine Carcará estava em cartaz um filme que me agradava e poderia ser uma boa alternativa. Tratava-se do vencedor do oscar de melhor filme estrangeiro de 2010, o argentino "O segredo dos seus olhos". Resolvi sair de casa e abandonar tudo por um instante. E assim iria eu naquela que seria minha primeira vez no Carcará. No caminho, muita reflexão. Os "dispostos" iam pra festa de sábado. Animação e muito movimento pelas ruas, principalmente no ponto de ônibus. Por um certo instante, bateu um arrependimento por não ir. Já me habituara a frequentar essas festas, mas hoje não me animo mais.
Me perguntava se realmente fazia a escolha certa. E fui recordando dos meus grandes momentos em Viçosa. Mas que no final não faziam a menor diferença, se hoje passava pelo passei: sentia ali mais uma vez o peso de viver. Um vazio que há muito busco preencher. Uma angústia incontrolável.

Depois da tempestade veio, enfim, a calmaria. Um vento sereno e a certeza de que encontrara a solução: estava em paz de novo.
O filme, muito acima das expectativas e não menos reflexivo que o dia. A questão central pairava em torno da pergunta: "como se faz para viver uma vida vazia?". A resposta não é fácil para quem tem de respondê-la. E acredito que seja justamente sua resposta o grande "segredo" da vida. Não é fácil carregar um passado sem sentido e muito menos não conseguir enxergar no futuro as certezas que precisa no momento.
O segredo é então encontrar, cada um a sua maneira, um sentido pra vida, para que ela não se torne um peso. O segredo é manter o equilíbrio e paz consigo mesmo. Manter por perto as pessoas que ama. Saber conciliar e ter sensatez nas escolhas. E principalmente, saber aceitar e lidar com as perdas.

Feliz é quem nem precisa descobrir o segredo.

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