sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sem sentido

Já faz mais de 10 anos que o primeiro reality show foi exibido no Brasil. A extinta “Casa dos Artistas” e o tradicional “Big Brother Brasil” fizeram um sucesso estrondoso e provaram que esse tipo de programa realmente daria certo por aqui. E não é a toa que tais programas sobrevivem até os dias de hoje.

Mas inovar é preciso. Para não cair na mesmice, surgiram diversas vertentes e adaptações desses programas, passando desde realities com finalidade musical como o “Ídolos”, ou com a finalidade de premiar um novo e talentoso profissional como “O Aprendiz” ou até mesmo programas mais radicais, caso de “No Limite” e “Hipertensão”. E mesmo os realities tradicionais, cujo objetivo é simplesmente dar um grande prêmio ao vencedor, assumiram vertentes diferentes, com o programa se passando desde uma fazenda, caso de “A Fazenda”, ou até mesmo em um ônibus (!), caso de “Busão do Brasil”. Haja criatividade. Deve-se ressaltar, porém, que mesmo diante de tanta variabilidade e constantes mudanças, não é fácil manter um público fiel e interessado por muito tempo, ou por muitas edições. Por isso, certamente, a grande maioria dos realities show acabam por não ter continuidade e fracassam.

Fora dessa linha, entretanto, encontra-se o BBB. Com novidades incrementais a cada edição e participantes com perfis completamente diferentes em cada temporada, fora até então o único programa que conseguiu manter o interesse do público ao longo dos anos. Melhor que isso, chegou ao seu auge na 10ª edição, consagrada e vencida por Marcelo Dourado (que, aliás, já havia participado do 4° BBB). Recordes seguidos de votação, o programa era assunto certo na boca do povo. Fato admirável e no mínimo curioso como um programa tão “batido” conseguira tal feito. Mas a verdade é que conseguia ser imprevisível. Inovações muito interessantes, como introduzir participantes pobres (BBB 4), um gay até então não assumido juntamente com homofóbicos (BBB 5), participantes que entrariam por sorteio de telefone (BBB 6), pessoas com personalidades polêmicas e essencialmente diferentes (BBB 7), o temido "big fone" (BBB 8), divisão da casa em dois lados, uma casa de vidro e ainda introduzir participantes idosos no programa (BBB 9), dividir a casa em “tribos” e dar uma segunda chance a ex-participantes (BBB 10). Tudo isso fora os discursos geniais de Pedro Bial nas noites de eliminação e as constantes novidades. Verdadeiras jogadas de mestre da Rede Globo.

Porém, ao assistir essa 11ª edição, fica a sensação de que as ideias parecem ter se esgotado e já não há mais nada de novo para se apresentar. Depois do imenso sucesso da divisão por tribos da última edição, os participantes foram divididos em 4 grupos, dessa vez separados por cores, por um critério pouco preciso e mal explicado. As provas acabavam não levando a um jogo de equipe. As colorações realmente foram úteis em apenas uma oportunidade, na primeira prova de liderança, onde os companheiros de cor do líder também ganhariam imunidade. Fora isso, mais nada. Evidente que fracassaria. Teve até participante votando no seu “companheiro” de equipe. Ora, pois, certamente essa não era a intenção do Diretor Boninho. Tão logo percebeu que essa separação não fazia o menor sentido acabou abolindo a divisão dos grupos. Os participantes devem estar se perguntando até agora para que servisse aquelas cores.

Somando a esse fiasco, podemos atribuir a pouca audiência do BBB 11 à escolha dos participantes. Competidores que não tem nada de diferente para apresentar ou pelo menos aparentemente não causam nenhum impacto (exceto a transexual Ariadna, primeira eliminada). Utilizar velhas artimanhas já não tem mais graça. O programa inevitavelmente caiu no tédio. A audiência não chega nem perto das edições anteriores e já é a pior da história. Na tentativa de reverter esse quadro, o que se vê são seguidas e claras intervenções, como mensagens diretas aos mais “desligados” e puxões de orelha vindos do apresentador. Entrada de novos participantes, uma casa de vidro que funcionou como repescagem, excessivas eliminações extras. Mudanças constantes que apelam pela atenção do telespectador. Aparentemente, sem muito sucesso.

Para piorar, a edição do programa ainda priva o público dos melhores momentos do programa. Cenas mais “quentes” não vão ao ar. Não faz o menor sentido, já que estas poderiam alavancar a audiência. Nessa temporada ficou muito mais interessante acompanhar o programa pela internet, através de sites independentes ou redes sociais. E não fosse o bastante, essa edição perderia ainda os belos discursos de Bial nas noites de paredão. Atordoado e um tanto quanto perdido, o que se vê agora é um monte de palavras sem sentido e que não despertam emoção, muito menos reflexão. Parece estar mais preocupado em chamar a atenção dos brothers do que se dedicar a escrever belas palavras. Salvo o dia da eliminação de Ariadna e o excelente discurso que culminou na saída de Igor (no qual teve como trilha ‘Satisfaction’, dos Roling Stones, e desfechou de forma brilhante com “Não, não tá ligado. Tá eliminado, Igor!”), suas palavras no momentos que antecedem a eliminação nem de longe lembram aquelas de edições anteriores. Pelo que já mostrou, fica a certeza de que podemos esperar mais de Bial. Fica também a certeza de que já não se faz mais BBB como antigamente.

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