quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sobre as férias (parte I): o voto de silêncio

Terminara o 8° período da faculdade. Aquele seria o último fim de ano que poderia dizer “estou de férias”. As últimas semanas foram demasiadamente boas. Até chegara a desejar que o tempo não passasse. Tolice. As ‘temidas’ férias chegaram e com elas o excessivo tédio. Não que isso fosse novidade, mas dessa vez tal situação parecia me incomodar mais. Tamanho foi o meu desgosto que me isolei. Por muitos dias, nada era capaz de conseguir me arrancar um sorriso. Tudo em volta me incomodava. A vida monótona, os amigos que desapareceram, a falta de coisas boas para fazer, ou nem mesmo ter um seriado ou BBB para assistir. Aliás, a programação de fim de ano da TV é uma porcaria. Pudera afinal isso não é época para ficar na frente da televisão.

Paralelamente a esses pensamentos, deveras egoístas, as “viagens” da mente e descontentamento com o mundo apenas agravavam a situação. Desrespeito e agressão ao meio ambiente, notícias de crime e violência, catástrofes naturais e sofrimento alheio, pobreza e desigualdade social. Mesmo sabendo que pouco ou nada posso fazer para mudar esse panorama, me sentia profundamente incomodado. O que acabava por gerar um verdadeiro conflito: se tenho casa, comida e uma família, como posso me queixar da vida, sabendo que existem milhões de pessoas que nesse momento estão passando fome ou que perderam tudo com as chuvas ou que perderam um ente querido com uma bala perdida. Como? Um absurdo viver com tanto desgosto sabendo que tenho uma vida que muitos desejariam ter. Egoísmo demais. E nesses momentos, tornava-me o maior crítico de mim mesmo.

Dormir quase sempre era a melhor solução. E o voto de silêncio veio como consequência. O isolamento no quarto, a boca fechada que mal abria para entrar comida. Uma aparente depressão. Viver praticamente tornara-se um martírio. Dias que não passavam e horas nas quais os minutos rendiam mais que o costume. Nada acontecia.

Não lembro o momento exato, ou sequer se esse “momento” existiu. Mas me habituei, e quando menos esperava, estava quase sorrindo de novo. Acredito que seja o conformismo com a certeza de que meus dias seriam mesmo assim. Como não se pode viver no escuro pra sempre, me adaptei às circunstâncias e, acredite, agora até quero continuar assim. Essa vida tranquila e longe de tudo por hora me satisfaz. Síndrome do autismo, como eu mesmo caracterizei.

No fim das contas esse é apenas mais um desabafo. E o faço no meu melhor estilo, escrevendo. Por que faço isso? Por que posto isso? Nem eu mesmo sei. Apenas me sinto melhor. Enquanto escrevo sinto que a alma se liberta do silêncio, e isso me conforta. Sem mais, meritíssimo.

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